terça-feira, junho 17, 2008

Como é ser cego?

Existe um mito em torno da cegueira que portamos que faz dela um monstro que ela não é. A cegueira não machuca, não dói, não limita tão radicalmente como pensam os que enxergam quando fecham os olhos por um minuto imaginando serem cegos, também não é doença. Acostuma-se com ela e o dia a dia é tão dia a dia que esqueço da cegueira e acabo por ver do jeito que "vejo" sem lembrar que não é visão! Depois de algum tempo de cegueira pode-se trabalhar, viver, ter todos os prazeres sexuais, emocionais e intelectuais que todos podem ter. Nosso problema não é entre nós cegos e a cegueira e sim entre ela e a sociedade. Ficamos sempre por detrás de um muro que faz não nos enxergarem como somos em nossa diferença e em nossa igualdade. Quando percebo os limites dos outros, principalmente os de saúde, como eu mesmo os tenho, é que sinto com nitidez como a minha cegueira é o menor problema que possuo, se é que é problema! É uma diferença, um limite que dependendo de mim pode ser diminuído ou aumentado. Existem muitos cegos que descarregam como culpa da cegueira suas incompetências pessoais e educação desinformada. Em verdade, nossa deficiência depende de quem a porta. Ela nos limita de fato, nos diferencia socialmente também, mas uma boa cabeça pode ultrapassar os obstáculos imaginários reduzindo-os aos reais e procurar superar as reservas sociais desnecessárias. Fazemos um esforço maior, temos que aprender mais coisas, driblar muitas emoções de rejeição e baixa estima, superar o condicionado estigma de que somos incapacitados, criado geralmente por pessoas que nem cegos são para sabê-lo, apenas imaginam! Mas, com persistência, podemos alcançar um grau de emancipação e independência excelentes!
Vou acabar como comecei: existe um mito em torno da cegueira que portamos que faz dela um monstro que ela não é.
MAQ (Marco Antonio de Queiroz.)

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