sábado, janeiro 24, 2009

Gravidez no Masculino

Narração de uma conversa entre dois homens
«Há algum tempo atrás, tive uma discussão com duas das minhas colegas. Ambas queriam ter bebés mas estavam assustadas com a dor. Sendo homem, disse-lhes que deviam enfrentá-lo como um homem e dar à luz quando realmente se sentissem preparadas para o fazer.
"Vá lá, tu não tens a mínima ideia. Só de pensar nisso, assusto-me para caraças" disse a colega A.
"Eu concordo completamente contigo. Tanto... que estou a pensar em adoptar" disse a colega B.
Fiquei para ali com cara de parvo.
"Porque é que não tens o primeiro filho, e adoptas o segundo?" Eu falei como um verdadeiro homem.
As duas raparigas olharam para mim como se estivessem a olhar para uma cabra a mascar erva e foram-se embora. Não voltei a tocar no assunto depois disso.

Ontem, encontrei-me com um amigo cuja mulher deu à luz um rapaz no passado Sábado. Ele costumava irradiar energia... não o bebé... o meu amigo... mas quando o encontrei, parecia-se com um saco de roupas velhas. Para aqueles que nunca viram um saco de roupas velhas... bem, ele parecia-se com uma mulher recém casada no regresso da lua-de-mel de 15 dias nas Ilhas Maurícias.
"O que é que se passou?" perguntei. E suponho que tenha sido um erro, pois ele começou a sua história. Aqui vos deixo a narração na íntegra... sem comentários de 'especialista' de minha parte.

- Jammy... as mulheres não davam à luz em cavernas quando o homem saía para caçar? Por que é que hoje em dia elas precisam do nosso apoio? Se na altura alguém tivesse dito que o homem teria de segurar na mão da senhora enquanto o bebé nascia, eles teriam apenas rido, teriam-se coçado, tirado macacos do nariz, cuspido para o chão e ido embora. É uma pena que nós homens não o possamos fazer hoje em dia.

- Percebo - proferi.

- Tu sabes... Eu não me importei de segurar na cabeça da minha mulher enquanto vomitava as tripas na sanita. Eu não me importei de me sentar no consultório do ginecologista, a ler a revista Saúde da Mulher. Eu não me importei de sair do consultório quando o médico, masculino, quis fazer uns testes na minha mulher, feminina. Eu até realmente nem me importei quando tive de segurar na mão da minha mulher e ir andar a passo de caracol todas as noites. Eu não me importei quando as pessoas ficavam a olhar para a barriga da minha mulher e sorriam. Na verdade, eu comecei a adorar.

- Eu lembro-me dos olhares para a barriga - pensei que o meu sorriso o conforta-se.

- Meu... mas quando a minha mulher estava no quinto mês, eu tive o choque da minha vida. Ela perguntou se eu poderia ficar na sala de partos enquanto ela dava à luz. Eu acenei com a cabeça contrariado. Como poderia magoá-la ao dizer que era provável que eu acabasse a vomitar e talvez a desmaiar?

Agredeci às minhas estrelas que Rekha tivesse feito Cesariana e que os médicos me tivessem dito para permanecer do lado de fora da sala. Mas não mostrei a minha felicidade.

- E depois as nossas aulas começaram. Apesar de gastar um balúrdio nas aulas, ainda fui obrigado a assisti-las. Eu e a minha mulher acabávamos os dias na clínica com duas almofadas coloridas. Se pensas que carregar duas almofadas coloridas pela rua fora foi punição suficiente... toma conta... na primeira semana das nossas aulas passámos o tempo todo a estudar o útero. Como se não chegasse, deram aulas sobre as trompas de Falópio e sobre os óvulos... como se eu quisesse saber. Concordo que tinha um ligeiro interesse nisto tudo quando estava na aula... mas era apenas nessa altura. Havia curiosidade aí. Agora já não!

- O que é uma trompa de Falópio? - perguntei. Mas não me pareceu que ele se importasse.

- Pensei que as coisas ficariam mais fáceis após a primeira semana, mas antes do fim da segunda semana eles tinham-nos mostrado dois filmes de mães a darem à luz os seus filhos. Eu vi-o de verdade... até que tive de ir à casa-de-banho 18 vezes e beber água 13 vezes durante os 15 minutos de filmes.

- Quem era o realizador? perguntei. Mas mais uma vez, ele não pareceu se importar.

- Surpreendentemente, a minha mulher adorou. Na verdade, ela quis discutir os filmes no caminho de regresso a casa. Como se não fosse assustador o suficiente, eles obrigaram-me a ver um filme de 20 minutos de como o feto cresce se desenvolve no ventre. Como a minha mulher me tinha desmacarado nas minhas antigas fugas... eu não pude sequer ir à casa-de-banho.

- Quem era o artista? Haley Joel Osment de Inteligência Artificial? Macaulay Culkin de Sozinho em Casa? Ou Michael Oliver de O Pestinha?" - estava curioso para saber mas de alguma maneira o meu amigo não pareceu interessado.

- Se eu pensava que o meu calvário iria acabar só a ver filmes assustadores de bebés e mães, eu estava altamente enganado. Pois depois, começaram os exercícios de respiração. Aparentemente, por altura do parto a mulher começa a ter contracções - uma dor tão grande que começas a questionar-te porque tiveste sexo em primeiro lugar e engravidaste em segundo lugar.

- O que são exercícios de repiração? Pensava que os médicos o aconselhavam a pacientes asmáticos! - era eu outra vez. Porque estou sequer a interromper? De qualquer maneira não vou ter respostas.

- Parece que quando estamos da sala de partos, devemos segurar a mão da mulher e pedir-lhe que inspire e expire com vigor para que ela não sinta tanta dor. No dia em que eu soube disto... tirou-me todo o sono.

- E depois...?

- E depois no dia D... estava na sala de partos a segurar a mão da minha mulher. Não sabia que ela tinha tanta força. Quando eu disse "continua a respirar querida" ela apenas me deitou um olhar e gritou "é fácil para ti dizer isso, idiota!". Não voltei a dizer nada (todo aquele dinheiro empregues nas aulas foram, no final de contas, um completo desperdício), e acho que perdi a consciência quando ouvi um guincho de bebé.

- Qual bebé? - perguntei. Novamente, ele nunca matou a minha curiosidade e continuou a sua história.

- Alguém poderia ter-se lembrado de me dar qualquer coisa e deixar-me descansar até eu me recompor. Mas não, os médicos tinham outros planos. Eles trouxeram um bebé realmente nojento e feio para perto da minha cara e sugeriram que o beijasse. Não o fiz. Precisamente quando me estava a levantar e a ir para ao pé da minha mulher, o médico gritou do outro lado da sala "quer ver a placenta do seu filho?". Como se estivéssemos no Museu da Cera de Madam Tussaud e ele me estivesse a perguntar se queria ver a estátua de Amitabh Bachchan. Eu apenas abanei a cabeça e saí da sala.

- Não sabia que o Museu da Cera de Madam Tussaud tinha uma estátua de Amitabh Bachchan! - exclamei. Depois percebi a minha insensatez e perguntei: - Mas qual é o problema... tu agora tens um novo membro na família e devias estar feliz por isso.

- É verdade. Mas ainda apenas se passaram quatro dias e a minha mulher diz que o seu parto foi uma experiência tão satisfatória que ela agora quer ter também uma menina.

Sem saber como, "Deus abençoe" escapou dos meus lábios.

P.S. 1 - Um destes dias pretendo dizer ao meu amigo que ele devia sugerir adopção à mulher. Argumento... na adopção, ela tem a certeza que é uma menina.

P.S. 2 - Quem disse que só as mulhere é que sofrem e sacrificam durante a gravidez?»

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