Dia de Chuva
Um dia de chuva
Parte I - Ficar em casa
Ah, não me apetece mesmo nada sair de casa com tanta chuva e tanto frio. Joana não queres fazer o contrário? Em vez de eu ir para Cantanhede, vens tu ao Luso, ficas cá em casa e amanhã vais directa para casa da tua tia. Que dizes?
Não Catarina, não foi isso que combinámos. Verdade, mas quando combinámos não estava esta "fabulosidade" de tempo. Vens até Cantanhede, diz-me ela, depois de almoço, e se continuar a chover ficamos por casa e corremos uma maratona de filmes interessantes.
Parte II - Em Cantanhede 1
Ok, ok, fazes o que tens a fazer Catarina. Também de frio não podes morrer, não é? Só tens de aguentar um dia de frio. Além disso tu adoras aquele aquecedor da Joana. O que tiver de ser, será. Vai com cuidado, que as estradas estão ideais para os despistes. Ok, pai. Mando toque quando chegar. Mas agora, vou a conduzir, deixo o telemóvel de lado.
Madcon - Beggin'
Ok, já cá estou. Pelo menos já não chove tanto. Toco à campainha da porta do prédio da Joana. Mas que porra, ela não abre. Deixa mandar sms. Olha, mas tenho aqui uma dela, há um quarto de hora a pedir que viesse daí a uma hora. Bom, muito bom. Agora, vou ter que esperar uma hora, no carro, ao frio. Olha, Joana, quando vi a sms já estava em Canta, agora fico aqui à tua espera.
Oh Catarina não, sobe, eu estou só a aspirar. Uau, que fixe Joana. Abre a porta que ela ultimamente tem estado aberta. Pois, mas hoje não é um desses dias. Eu detesto a tua porta e ela odeia-me. Espera, um click, deixa-me tentar agora. Olha, abriu-se! Oh, mas agora não me lembro de qual é o teu andar, nunca me lembro. Vou pelas tuas escadas, hei-de reconhecer a tua porta pelo tapete. Este tapete (ás flores) é a cara dela mas, espera, estou a ouvir o aspirador e parece que vem de cima. Ah sim, afinal, este é que é o AP da Joana. Então mas que é dela? Tem o aspirador a trabalhar, a porta escancarada, ouço vozes. Joana?
Sms's:
Joana -> Catarina
14h39 "Que azar do caraças"
14h40 "Anda estava aberta"
(entretanto, hã?!, ela foi lá baixo pelo elevador enquanto eu subia pelas escadas? Ah ah)
14h10 "Estou aqui e a porta está aberta"
Catarina -> Joana
14h41 "sim, eu sei. Mas eu estou à porta de tua casa. Dentro"
Joana -> Catarina
14h41 (em simultâneo com aquela que envio) "Podes vir. Não vou para a rua porque está a chover e estou de pijama"
(eu - ah ah, que comédia)
14h41 "Dentro"
14h42 "......."
Do vão das escadas, oiço a Joana lá em baixo. "Oh c'um caraças". Ok, Joana, vou usar a tua casa-de-banho senão mijo-me aqui mesmo. Ah, cá estás tu. Lol. Finalmente, dá-me um beijo. Oh, que comédia.
Então vai vendo os horários enquanto eu acabo de arrumar a casa. Ok, já te disse que adoro a tua cadeira?
Parte III - Ensaio Sobre a Cegueira
Lá vamos nós, outra vez, no teu carro.
Jay Sean - Stay
Depois de meia hora à procura de estacionamento, lá vamos nós primeiro tirar os bilhetes. Lembras-te da outra sessão, Joana? Só nós as duas? Desta vez uma sala mais composta. Mas antes e como ainda falta uma hora (mais ou menos) para o filme começar, vais comer, que já tens fome. Eu não quero nada. O almoço foi farto. Anda, sentemo-nos nesta mesa. Hum, acho que esta não era a mesa que eu tinha em mente. Mas como tudo tem uma razão de ser, olha, olha um bilhete para mim. Espera será que corei muito. Oh Deus! Joana, é por isto que gosto de saídas no feminino. Abrem-se possibilidades.
Ao rapaz do bilhete: Olá, chamo-me Catarina. Elogio em altura ideal, obrigado. Não disse nada no momento porque o dia era meu e da minha amiga, mas ficou registado. :p
Voltando ao filme. Depois de dois cafés (a Joana entende-me) e depois de uma corrida aos M&M's e Maltesers (da Joana, a meu pedido, com sequência de sms Joana -> Catarina: caixa, pagar, elevador, subir, 1º andar), vamos ver se o filme faz jus às críticas (positivas e negativas). O óptimo deste filme é fazer-nos pensar, darmos valor à visão. Imaginemos o que seria de nós, todos nós, se de um dia para o outro, deixássemos de ver. Perdemos a identidade, raça, valor, dignidadde. Mergulhamos no mais profundo da decadência humana. Não é a mesma situação quando falamos de uma pessoa que fica cega e que tem quem a ensine ou ajude a adaptar-se à sua nova condição; e quando todos cegam, ao mesmo tempo, sem direito à aprendizagem suave. Só vendo o filme para perceber.
Parte IV - Em Cantanhede 2
Espera, antes de irmos, vamos buscar os pacotes de café, não é, Joana?
Vamos embora, passamos por Ança, ver se a Milena já dorme, conversar um pouquinho no carro enquanto emborcamos mais umas guloseimas. Ah, e temos de passar pelo clube de vídeo. Desta vez, escolhemos um light para descontrair. Mas só depois do jantar. Arroz de milho e ervilhas, quadrados de porco à moda de Maria Jockitas.
Agora sim, vamos ao filme.
Mal Casado
Na cama, debaixo dos cobertores, ao quente, com o maravilhoso aquecedor da Joana, aquela maravilha tecnológica. Este filme é uma comédia romântica previsível, como começam a ser os filmes do Ben Stiller, que tem outro filme praticamente igual. Mas hei estamos numa de descontra, de rir e de fim de dia.
Pronto, o filme já acabou. Posso apagar as luzes? Podes. Já agora, podemos falar um bocado no escuro enquanto uma de nós não adormece? Claro, e já agora, Catarina, se eu amanhã não estiver acordada às 11h30, interrompes o teu livro e chamas-me? Claro Joana.
Parte V - Manhã
Bom dia Joana. Ups, ainda estás a dormir. Ok, vou ficar aqui mais um pouco com os olhos fechados, enquanto dormes. E, passadas umas horas, e com algumas palavras pelo meio (das quais a Joana dificilmente se lembrará), ela desperta, mais especificamente, com um telefonema. E com isto, há que acordar com música.
Regina Spektor - Fidelity
Bom dia Joana. Espero por ti, próximo Sábado.
Letras: Beggin', Stay, Fidelity.